quinta-feira, janeiro 21, 2010

coma white



a pill to make you numb / a pill to make you dumb...


toma-se a paroxetina e passados umas 8 semaninhas estamos outros, diz um estudo recente. que esta droguinha nos pode mudar traços de personalidade a um nível superior do que o que pode ser obtido com terapias cognitivas. que diminuímos o neuroticismo (tendência para sentir emoções negativas e instabilidade emocional) e aumentamos a extroversão (escuso de definir). e seria por meio da alteração destes rabiscos da personalidade que se aliviariam as depressões. para não falar de outros mal-estares.

(o que é isto que somos que é tão passível de ser mudado assim, quase de um mês para o outro, quase com uma caneca de chá? que é isto de se ser, que apesar do cerne rígido, parece ser tão maleável?)

no fundo, não me surpreende. a depressão tem sido associada a baixos níveis de serotonina. e pensa-se que esse pequeno neurotransmissor muda (mas não sejamos simplistas) a visão do mundo, o modo de estar, a capacidade para experienciar prazer. muda uma pessoa. ou o que achamos que ela é. está tudo aqui encima, num punhado (gigante) de células que comunicam silenciosamente entre si e que nos deixam apenas resultados breves dessas conversas. no fundo, não passamos de padrões electroquímicos.

a alma é passível de mudança. e se as drogas nos podem mudar, passemos a tomá-las então. certo? para sermos menos tímidos, para não pensarmos tanto, para arriscarmos mais, para termos menos medos, para sermos mais corajosos. enfim, para sermos mais felizes, nem que só por um pequeno instante. tomemos injecções consoante o objectivo. ficamos tontos, anestesiados das sensações dolorosas do dia-a-dia. e gostamos. sentimo-nos bem. parece fácil por aqui. não temos que mudar nada. porque alguma coisa muda as coisas por nós. todos os dias.

(se as coisas fossem certas e duráveis. mas o estudo dos substratos neuronais da mente e das suas psicopatologias está nos primórdios da sua existência.)

um menino monta a bicicleta. o pai agarra-a. leva o menino a correr o vento. o menino diz, Pai larga. o pai não larga, o menino acha que ele largou. Estou a andar sozinho, o pai não desmente. a pergunta: o menino seria capaz de andar sozinho se o pai largasse? porque o menino tem que saber andar sozinho se o pai largar. se nós somos um padrão electroquímico, até que ponto não podemos nós próprios [aprender a] operar o padrão? o pai pode ajudar, pode. mas não pode estar lá para sempre. e se puder estar, será bom que ele esteja?


a pill to make you anybody else. / but all the drugs in this world / won't save her from herself.



6 comentários:

O Chefe disse...

Quando inventarem o comprimido pra aracnofobia avisa.

Filipa Júlio disse...

antes numb e dumb do que braindead.
nada contra m&m's de felicidade.

menina de porcelana disse...

chefe:
já inventaram. chama-se xanax (etc etc etc) e se tomado em quantidades suficiente vais ao ponto de deixar as aranhinhas andarem por cima de ti. yupii.

filipa:
eu sei. eu não sou contra que se tomem quando são necessários. que se tomem num início, para dar alento. para se recuperar da queda. porque há males necessários. o problema é quando se tornam fugas (eternas, se eternas pudessem ser) à possibilidade de resolver as coisas de outra forma. não vale de muito tomares medicamentos para a hipertensão, se não és capaz de deixar de comer as coisas sem (tanto) sal. não valeria a pena mudar (também) alguns hábitos?
e ainda há tanto para perceber. o problema dos m&m's da felicidade é que não trazem só felicidade. trazem também outras coisinhas, secundárias e menos boas, anexadas. porque o 'numb' + o 'dumb', repetidos n vezes, também podem levar ao 'braindead'. quem te garante que não?

anónima conhecida ;) disse...

Chefe J.

para a arcnofobia podes sempre experimentar a terapia de entrar em contacto com um Homo sapiens aracnophilus.
Por exemplo em:
http://andarasaranhas.blogspot.com/

O Chefe disse...

Nah.. Se estão contentes com as aranhas, eles que fiquem com elas.

:P disse...

"emnosehtudo"... :P