A serra arde na minha frente.
Não vejo já os pinheiros. É cinza o nevoeiro que nos impede
de vislumbrar o que lá vem.
Sei que há gente por entre as labaredas. Que há vida por entre os caminhos.
Mas agora
tão somente é negro o que vejo. É noite. É escuro, é breu. Que futuro o nosso?
As chamas trepam a serra,
Acendem-na qual rasto de imponência, de mesquinhez, de corrupção.
Pura, ela arde vezes já sem conta, definhando por cada conquista abrupta.
Os homens irrompem pelos seus caminhos virgens e tomam-na nos braços, nos carros
levam-na no seu cansaço triste.
Oh Portugal, hoje és cinza e nevoeiro macilento.
Bandeira verde e ensanguentada de destruição. E a coroa de quem rouba mais um cadáver.
Renascer?? Que Vida me deixaste para recordar?? Que Sementes na terra para desabrochar?
Renascer das cinzas?... Talvez. Depende do que te restou. Sim, depende
de ti, e da Esperança que carregas no Ventre.